MP entendeu que policiais mataram Henrique Alves, de 28 anos, por motivo torpe e com recurso que dificultou a defesa dele. Jovem foi achado morto após abordagem.
O Ministério Público de Goiás (MP-GO) denunciou quatro policiais militares pela morte de Henrique Alves Nogueira, de 28 anos, que foi filmado ao ser colocado em uma viatura em Goiânia. O MP entendeu que os PMs mataram o jovem por motivo torpe e com recurso que dificultou a defesa dele. Um vídeo mostra o momento em que o Henrique é colocado dentro da viatura
Não conseguimoa localizar as defesas dos policiais militares Guidion Ananias Galdino Bonfim, Kilber Pedro Morais Martins, Cleber Leandro Cardoso e Mayk da Silva Moura Sousa, que foram denunciados pelo MP.
Os quatro policiais militares foram presos no dia 16 de agosto, após a Delegacia Estadual de Investigações de Homicídios (DIH) representar pelas prisões temporárias dos investigados.
Câmeras de segurança registraram os quatro policiais militares, em 11 de agosto, colocando Henrique no porta-malas da viatura. Após a situação, a PM informou, no dia 14, que tinha afastados os PMs de suas funções. Em seguida, no dia 15 de agosto, a Policia Militar também pediu a prisão provisória deles
Denúncia do MP
O promotor de Justiça Geibson Rezende entendeu que os policiais militares mataram o jovem com disparos de arma de fogo por motivo torpe e mediante recurso que dificultou a defesa da vítima.
Na denúncia, o promotor detalhou que os denunciados levaram Henrique dentro de uma viatura até uma estrada de terra e, no local, atiraram contra ele, tendo acertado quatro tiros. Depois disso, os policiais simularam um confronto policial com troca de tiros, conforme o documento.
O MP entendeu que os policiais praticaram o crime por motivo torpe, uma vez que, em data anterior, no Bairro Jardim Vila Boa, por suspeita de roubo de celular, Henrique teria sido detido e algemado em uma viatura, mas conseguiu fugir levando a algema. Depois disso, os militares o encontraram, cobraram R$ 100,00 pelas algemas e o juraram de morte.
Os policiais foram denunciados por homicídio duplamente qualificado, por motivo torpe e praticado mediante recurso que dificultou a defesa da vítima.
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Abordagem policial
A câmera de segurança de um comércio filmou no dia 11 de agosto quando Henrique Alves caminhava em rua com as mãos no bolso do casaco. Uma viatura do Tático da Polícia Militar (PM) para ao lado dele. Os PMs descem com revólveres nas mãos e o jovem logo se vira contra um muro para ser revistado.
A abordagem dura poucos segundos. As imagens mostram que o jovem e os policiais conversam por cerca de cinco minutos. Em seguida, os militares levam Henrique para o porta-malas da viatura. Ele até tenta resistir, mas acaba entrando. O carro da PM, então, segue trajeto desconhecido.
De acordo com o advogado Alan Araújo Dias, que representa a família, o jovem foi abordado no Bairro Jardim Europa por volta de 8h da manhã, a última vez em que foi visto com vida.
Depois disso, a família tentou contato com ele durante todo o dia, mas não conseguiu. Registraram boletim de ocorrência por desaparecimento. À noite, cerca de 12 horas depois da abordagem, receberam a notícia da morte. O corpo foi achado no Bairro Real Conquista, que fica a 14 km do local da abordagem.
Suposto confronto
Segundo o delegado responsável pelo caso, André Veloso, o jovem foi colocado na viatura por volta de 8h da manhã e a delegacia de Homicídios foi acionada às 22h do mesmo dia, pela mesma viatura, para uma ocorrência de um suposto confronto.
“A versão deles [policiais] é que eles estavam andando ocasionalmente, se depararam com uma moto, pediram para parar, o motociclista fugiu e o carona confrontou a equipe, mas tivemos acesso a imagens que comprovam que, ao invés desse confronto, ele foi abordado e colocado no interior da viatura”, disse o delegado, dias após o crime.
Os policiais militares que abordaram o jovem registraram uma ocorrência contando que houve um confronto entre a equipe e dois suspeitos que estavam em uma moto.
Eles descreveram que estavam em patrulhamento quando cruzaram com a motocicleta de cor prata. Narram que os dois ocupantes tentaram dar meia volta para evitar abordagem. A moto derrapou e o garupa que levava uma mochila desceu.
Os militares dizem ainda que pediram socorro médico para o suspeito e que a morte foi constatada ainda no local. A equipe disse que ele levava uma mochila cheia de drogas. Registraram que o jovem não tinha documentos e que o outro suspeito fugiu.
Apesar de os militares alegarem que o jovem estava com drogas numa mochila, a Polícia Civil explica que, segundo as imagens que mostram a abordagem, Henrique Alves não portava nenhum dos objetos apontados.
“Na abordagem deu para ver que ele não estava com mochila nenhuma, não estava armado e não estava portando essas drogas. Ele estava sozinho, eles fazem a revista pessoal dele e o colocam no camburão”, explicou o delegado, à época.
No registro policial em que os policiais militares detalharam o suposto confronto, foi explicado ter sido encontrado na mochila:
- 3 barras e meia de substância similar a maconha;
- 70 papelotes de substância similar a cocaína;
- 38 papelotes de substância similar a ecstasy;
- 46 papelotes de substância similar a crack;
- 2 pedaços de crack;
- 3 pedaços de cocaína;
- 1 rolo de papel filme.