Segundo a Polícia Civil, recebimentos do Ingoh saltaram de R$ 30 milhões, em 2013, quando foi credenciado no Ipasgo, para R$ 120 milhões em 2018.
O faturamento do Instituto Goiano de Oncologia e Hematologia (Ingoh) cresceu quatro vezes depois de ser credenciado no Instituto de Assistência dos Servidores do Estado de Goiás (Ipasgo) para fazer tratamento de quimioterapia nos beneficiários do plano de saúde, entre 2013 e 2018. Documentos obtidos com exclusividade pela TV Anhanguera revelaram o salto dos valores pagos anualmente pelo Ipasgo ao Ingoh de cerca de R$ 30 milhões, em 2013, para R$ 120 milhões cinco anos depois.
Uma tabela desenvolvida por auditores contratados do Instituto Euvaldo Lodi (IEL) aponta o pagamento de R$ 116 mil em um único mês ao Ingoh, em 2018, pelo uso de salas para aplicação de remédios orais. Em cinco anos, os valores pagos pelo uso dessas salas chegaram a R$ 3,7 milhões.
segundo a Polícia Civil, o instituto não poderia cobrar a taxa para aplicação de remédios de uso oral, como mostra um trecho escrito das investigações: “Para administração de medicamentos que, por serem comprimidos e sob o controle do próprio paciente, dispensava a utilização desta sala”.
A Polícia Civil de Goiás investiga suposto desvios nas contas do IPASGO que chegam a R$ 50 milhões, pagos a clínicas credenciadas por meio de um esquema que fraudava auditorias médicas. No caso do Ingoh, as notas eram pagas sem cortes pelo Ipasgo.”O padrão, quando um prestador cumpre seu papel, ele apresenta a conta para pagar, no caso o Ipasgo. Aíessa conta será analisada mediante auditorias analíticas e autorizativas e devolvida ao prestador comcertas glosas, que são cortes. Esse é o padrão. Com o Ingoh, isso não acontecia”, explica o delegado Luiz Gonzaga Júnior.
Ex-servidores investigados
Entre os investigados na operação, batizada de Metástase, está o ex-presidente do Ipasgo, Francisco Taveira Neto, responsável pelo lançamento de um programa inovador no tratamento de câncer aos usuários do plano e credenciou, em 2013, apenas o Ingoh para fazer quimioterapia nos pacientes. Taveira ficou na presidência do Ipasgo até 2017.
A casa dele foi alvo de buscas e apreensão por parte do Grupo Especial de Combate à Corrupção da Polícia Civil, assim como a casa de ex-diretores do alto escalão do Ipasgo, suspeitos de integrarem o esquema.
O ex-diretor de Assistência ao Servidor (Ipasgo), Sebastião Ferro de Moraes, e Romeu Sussuma Kuabara, ex-diretor de Planejamento, estavam na lista de endereços investigados. Segundo a polícia, Kuabara saiu do Ipasgo em 2018 e assumiu o cargo de diretor-técnico do Hospital de Urgência de Goiânia (Hugo); gerido pelo Instituto Haver, um membro do Ingoh.
Apesar de o faturamento do Ingoh ter quadruplicado entre 2013 e 2018, o gasto com medicamentos usados em quimioterapia não aumentou na mesma proporção. Motivo de questionamento por parte de representantes de laboratórios.
A partir dos questionamentos, surgiu a suspeita de o Ingoh usar dosagens menores do que as indicadas nos pacientes e comprar medicamentos de laboratórios não reconhecidos com produtos de qualidade inferior ao praticado no mercado. Porém, o instituto cobrava do Ipasgo valores de medicamentos de alta qualidade.
Médica liberou R$ 16 milhões
Segundo boletim de inspeção da Controladoria Geral do Estado (CGE), R$ 49 milhões foi auditado no Ipasgo por médicos a serviço do Ingoh. Entre os profissionais, a médica Wanessa Apolinário Martins auditou sozinha 3 mil guias de procedimentos em apenas três meses, entre janeiro e maio de 2017. O trabalho dela resultou no pagamento de R$ 16 milhões do Ipasgo ao instituto.
O diretor-técnico do Ingoh, Yuri Vasconcelos, disse nesta sexta-feira (13) não haver privilégios entre o instituto e o Ipasgo, visto que os valores repassados pelos planos de saúde são tabelados e acredita em retaliação por disputa de espaço no mercado.“Como esses médicos assinaram essa ação e colaram a mesma denúncia que parou no Ministério Público,a gente consegue imaginar que há interligação entre esses concorrentes e essa denunciação repetitiva queestamos vivendo”, defendeu Vasconcelos.
Avião e carros de luxo
Na quinta-feira (12), a operação Metástase apreendeu em 19 endereços ligados ao Ipasgo e ao Ingoh uma aeronave, carros de luxo, dinheiro e obras de arte. Na sede do instituto, os agentes recolheram medicamentos e prontuários de pacientes atendidos em clínicas da rede.
A investigação durou seis meses e identificou três formas que os investigados usavam para fraudar as auditorias médicas. A primeira acontecia automaticamente com a ajuda de um robô. A segunda, por meio de empresas terceirizadas e a terceira através de médicos a serviço do Ipasgo e do Ingoh.
Com essas estratégias, as contas a receber do Ingoh foram aprovadas sem cortes, as chamadas glosas nas notas fiscais, e com faturamento até 10 vezes superior ao recebido pelas demais clínicas credenciadas.