João Batista Ferreira morreu por complicações de uma pneumonia. Para a família dele, se a vaga na UTI tivesse saído no dia da solicitação, ele teria uma chance de sobreviver.
Raiva, frustração e impotência. É assim que a família de João Batista Ferreira se sente com a notícia da morte dele aos 54 anos. O homem, com pneumonia grave, passou quatro dias internado na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Jardim Itaipu, em Goiânia, esperando por uma vaga de UTI. Quando a vaga foi liberada para Nerópoolis, cidade vizinha, João foi transferido, mas não resistiu. Para a família, se a vaga tivesse saído antes e dentro da própria capital, talvez, João teria uma chance de sobreviver.
“Quando a gente foi reconhecer o corpo do meu pai, uma médica do hospital de Nerópolis falou pra gente: ‘Olha, se eles tivessem conseguido (a vaga) a tempo, seu pai não teria morrido’. Então, isso foi pura negligência”, lamenta a filha, Giliane Salviano.
O caso de João Batista é mais um que ilustra o caos na saúde pública de Goiânia. Na última semana, pelo menos quatro pessoas morream aguardando vaga em UTI. O prefeito eleito, Sandro Mabel (UB), afirmou que a falata de vagas foi causada por falta de pagamento aos hospitais que disponibilizam leitos para a capital, que não tem hospital próprio. Em reunião com o setor e com o Governo de Goiás, Mabel garantiu que, ao assumir a prefeitura, também assumirá essas dívidas.
Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde lamentou a morte do paciente e explicou que conseguiu a liberação de uma vaga de leito de UTI para ele na tarde de sábado (23), para o Hospital Estadual Itumbiara. Mas, essa vaga precisou ser recusada, porque João Batista não tinha condição de ser transportado, para curta, nem para longa distância, pois precisava ser estabilizado.
Como a regulação estadual necessita de uma recusa formal para a busca de uma nova vaga, só obteve essa informação, no sistema de regulação de Goiânia, às 21h51 do mesmo sábado. Às 22h22, a regulação estadual viabilizou outra vaga, desta vez no Hospital Sagrado Coração de Jesus em Nerópolis. Todo o trâmite foi acompanhado pelo Ministério Público de Goiás (MPGO) a pedido da família.
Entenda o caso
João Batista, que trabalhava fazendo fretes, começou a passar mal na segunda-feira, dia 19 de novembro. Até então, todos da família achavam que se tratava de uma gripe comum, possível de ser tratada em casa. Mas na terça-feira (20), os sintomas se agravaram.
Como o homem mora em Aparecida de Goiãnia, os parentes o levaram para a UPA do Buriti Sereno. Lá, os médicos receitaram Dipirona e mandaram o homem para casa, afirmando que o caso não era grave.
“Eles mandaram meu pai embora umas 23 horas. Quando eram 2h40 da madrugada, meu pai começou a escarrar sangue, e aí eu achei aquilo estranho. Eu e meu irmão levamos meu pai de novo à UPA do Buriti Sereno, mas os médicos simplesmente passaram Dipirona e mandaram a gente voltar para trás. Não foi nem questão de meia hora. Eu e meu irmão, a gente conversou e viu que aquilo estava errado, porque meu pai estava até com o baldinho cheio de sangue”, lembra Gisliane.
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde de Aparecida de Goiânia disse que João Batista deu entrada na unidade de saúde com queixas de dor de garganta há três dias. Disse que ele passou por avaliação médica, exames laboratoriais e raio X. Teve pneumonia diagnosticada, recebeu medicação e teve alta para ir para casa.
“Todos os protocolos foram seguidos e ele não ficou internado na UPA nem teve necessidade, na ocasião, de ser encaminhado para outra unidade”, disse a secretaria.
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Apesar da agilidade do atendimento e do pedido de transferência, Giliane comenta que a UPA não tinha medicamentos. Os remédios foram comprados pela família. Mesmo assim, João Batista foi internado e recebeu atendimento enquanto esperava pela transferência.
No sábado (23), Giliane e a irmã, Cidilaine, conversaram com a TV Anhanguera e lamentaram a situação do pai, já prevendo o risco de vida que ele corria com a demora da transferência. “Meu pai está entubado, sabe? Meu pai não está bem, ele está inchado, ele está no estado terminal”, disse Giliane emocionada.
“Aqui não é um hospital. Meu pai precisa de um hospital, de uma UTI. A gente não tem condições de pagar uma UTI por dia, infelizmente. Mas a gente paga nossos impostos e está correndo atrás dos nossos direitos”, afirmou Cidilaine, indignada.
No domingo (24), João Batista conseguiu uma vaga de UTI na cidade de Nerópolis, a pouco mais de 36km da capital. Ele foi transferido, mas na madrugada desta terça-feira (26), um dia depois da transferência, morreu.
