Pessoas também doaram roupas, tênis e uma bicicleta, em Novo Gama.
Diagnosticado com gigantismo, ele começou tratamento em hospital do DF.
O caso do estudante Sérgio Gabriel Ribeiro Gomes, que tem 10 anos e mede 2 metros de altura, mobilizou diversas pessoas a ajudarem a família, que mora em Novo Gama, cidade goiana no Entorno do Distrito Federal. Diagnosticado com gigantismo, o menino ganhou tênis, roupas e uma cama nova, adequada ao tamanho dele, já que a anterior não o cabia. “Agora já melhorou”, diz o garoto.
Sérgio Gabriel também realizou um de seus sonhos, que era o de ter uma bicicleta. Com o novo brinquedo, o menino passa parte do dia passeando pela rua da casa em que mora.
Com tantas doações, a criança também decidiu se juntar à solidariedade. Ao abrir seu armário e ver a quantidade de roupas que ficaram pequenas, Sérgio Gabriel resolveu doá-las: “Algumas já não servem mais em mim, então eu vou dar, vou doar para pessoas que precisam”.
O menino tinha 5 anos quando a doença rara foi diagnosticada. O gigantismo é causado pela produção exagerada do hormônio do crescimento, que está associada à presença de um tumor benigno no cérebro. Além das privações e da dificuldade em se locomover, Sérgio Gabriel reclama, constantemente, de dores de cabeça e no corpo, além de ter convulsões.
Luta por tratamento
Mãe do menino, a dona de casa Ricardene Barreira conta que o filho passou por várias unidades de saúde desde que soube da doença, mas não tinha conseguido, efetivamente, nenhuma terapia até o dia 4 de agosto, quando passou pela primeira consulta no Hosputal Universitário de Brasília, onde está fazendo terapia.
A endocrinologista que acompanha o caso de Sérgio Gabriel, Luciana Naves, explica que o tratamento dele deve ser longo, pois a demora em retirar o tumor fez com que ele dobrasse de tamanho de 2009 a 2014, passando a medir 5 cm, tamanho correspondente a um limão. Segundo a médica, o crescimento do tumor provoca as dores.
“A hipertensão intracraniana se demonstra pela dilatação dos ventrículos, que são responsáveis por essa circulação cerebral. Como o tumor cresceu muito em um espaço pequeno, ele invadiu estruturas importantes e modificou a circulação [sanguínea] dentro do cérebro. Isso explica porque ele tem muita dor de cabeça e algumas alterações comportamentais”, explicou.
Reclusão
O menino vive com a mãe e a irmã mais velha, de 13 anos. Como Ricardene não tem condição de trabalhar devido ao quadro de hepatite e da evolução na falência dos rins, a família sobrevive com um auxílio-doença no valor de um salário mínimo. A mulher conta que o marido morreu por causa de um câncer em 2008 e, em 2011, o filho de 19 anos foi assassinado.
A dona de casa relata que Sérgio Gabriel sempre é alvo de piadas na rua e que as pessoas não acreditam que ele tenha 10 anos. Ricardene teme que o caçula também seja vítima de violência e, por isso, prefere mantê-lo dentro de casa: “Moro num lugar onde quem manda é criminoso. Tenho medo de ele ir comprar pão e não voltar mais, de fazerem chacota e ele reagir, ficar bravo porque é criança e atirarem nele”.
Sério Gabriel não reclama de ficar dentro da residência, pois gosta de “assistir DVD, comer e brincar com os bonecos”. No entanto, com a bicicleta nova, ele faz questão de pedalar na rua em frente à residência. Para ele, não ter amigos não é um problema: “Gosto de ficar só, fazer minhas coisas, não sinto falta de amigo”.
Apreendendo a ler
O menino passou a frequentar este ano uma escola pública em Santa Maria, no Distrito Federal. A mãe diz que ele não era aceito nas unidades de educação porque é hiperativo e não controla as fezes. “Escola nenhuma queria ele porque fazia coco na roupa e eu não tinha dinheiro para comprar fralda”, conta Ricardene.
Apesar de ainda não conseguir escrever o próprio nome, Sérgio Gabriel quer apreender para poder trabalhar. “Quero aprender a ler e escrever porque é bom. Tenho vontade de trabalhar, ter um emprego para ajudar minha mãe, porque minha mãe está muito cansada. Quero cuidar dela um dia. Quero ser cientista”, relata a criança.
No entanto, ir para a escola é um desafio para o menino. A mãe não tem condição de pagar um transporte particular, então, a filha mais velha precisa acompanhar o irmão para que ele não se perca ou possa socorrê-lo, caso haja algum problema.