Idoso usou telha de zinco e lona de plástico para se proteger da chuva e sol.
Ele e esposa tentam uma casa de programas sociais da prefeitura há 2 anos.
Morando há 22 anos nas ruas de Goiânia, Sebastião Rodrigues de Souza, de 63 anos, improvisou há um ano e seis meses uma casa na Praça Alípio Mendes Ferreira, no Setor Aeroporto. No local, ele mora com a mulher, Lindalva Nunes dos Santos, 41. Para se sustentar, vende imagens de santos e enfeites de Natal nos semáforos da capital. Porém, cansado de passar dificuldades nas ruas, o casal diz que tenta uma casa popular em um programa habitacional da prefeitura desde 2012.
Sebastião conta que já morou em diversos pontos da capital e enfrentou diversos problemas. “Já morei na T-63, debaixo do viaduto da Rua 21, perto da Catedral de Campinas. Em alguns lugares eu tive que sair porque fui ameaçado de me expulsarem dos lugares. No último, eu saí porque começou a ter muito escorpião no lugar”, relata.
No endereço atual, improvisou sua casa, com uma telha de zinco e lonas plásticas, que o protegem do sol e da chuva. Dentro, estão os poucos pertences que possuem: uma cama de casal, uma televisão, um pequeno aparelho de som, um fogão de duas bocas e uma pequena geladeira. Parte desses objetos foi doada por pessoas que se solidarizaram com a situação do casal.
Outros itens, no entanto, foram comprados com o pouco dinheiro que Sebastião consegue como ambulante. Por mês, ele consegue até R$ 600 com o comércio e também catando materiais recicláveis.
Nascido em Goiânia, Sebastião disse que já morou em diversas cidades em Goiás e Mato Grosso. Já foi pintor, gari, caseiro e garimpeiro. O idoso afirma que já viveu diversas histórias chocantes, mas prefere não falar sobre o passado, que considera “difícil”, até mesmo tendo perdido o braço esquerdo. O morador de rua relata apenas que, ao voltar para Goiânia, no início da década de 1990, foi morar em um hotel.
“Foi nessa época que conheci a Lindalva. Ela tinha saído do Tocantins e estava morando aqui. Aí nos conhecemos e casamos. Ficamos um tempo morando lá, mas depois ficamos sem ter como pagar pelo lugar e decidi ir morar na rua”, conta. O idoso ainda complementa dizendo que a escolha de morar na rua também se deu pelo fato de não gostar de multidões.
“Prefiro ficar quieto no meu canto. Não mexo com drogas, não saio com os outros pra lugar nenhum, não gosto de me misturar no meio dos grupos. Sou morador de rua, mas sou feliz, porque fico no meu canto, tenho minhas coisinhas, não incomodo ninguém”, diz. Porém, após tanto tempo na rua, o que ele afirma querer é “reconciliar com Deus e conseguir minha casinha, para eu e a minha mulher ficarmos no nosso canto”, afirma.
Entretanto, Sebastião afirma que já tentou fazer o cadastro na Secretaria Municipal de Habitação (Smhab) quatro vezes, mas sempre teve problemas. “Toda vez que sonho com minha casa, acordo em um pesadelo. Eles [secretaria] dizem que as casas foram invadidas por outras pessoas, ou que o cadastro mudou de lugar e tem que fazer outro”, conta.
A secretaria informou que o cadastro do casal não podia ser feito, pois os dois não possuíam documentos pessoais para dar entrada no processo e que a Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas) acompanhava a situação dos moradores de rua para conseguir providenciar os registros necessários.
Segundo a assessoria de imprensa da Semas, o casal recebe assistência desde o início do ano. De acordo com o órgão, eles foram convidados a se transferir para um abrigo, mas se recusaram e preferiram continuar morando na praça do Setor Aeroporto. A Semas adiantou ainda que, após localizar os documentos de Lindalva, foi dada entrada no processo para conseguir moradia popular no último dia 2.
Para isso, a secretaria explicou que precisou fazer um processo de rastreamento em todos os cartórios do Tocantins para conseguir encontrar onde Lindalva havia sido registrada para dar entrada na 2ª via da Certidão de Nascimento e, posteriormente, em todos os outros registros.
Sobre a situação de Sebastião, a assessoria informou que o idoso afirma ter documentos, mas que eles estariam na casa de seus filhos, mas não informou onde eles morariam.