Comandante-geral da PM emitiu nota de repúdio e disse que questão teve intenção leviana de atingir a corporação. Coronel se manifestou pela anulação da pergunta.
Policiais militares (PM) de Goiás manifestaram revolta e repúdio após serem chamados de “milicianos” em questão da prova do concurso de escrivão da Polícia Civil, realizado no domingo (15). O comandante-geral da PM, coronel André Henrique Avelar, divulgou uma nota dizendo que a questão teve intenção “muito além de levianas de atingir uma corporação”.
A prova foi aplicada pelo Insituto AOCP, em Goiânia. Pedimos uma nota ao instituto, por e-mail, às 11h13, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.
O coronel se manifestou pela anulação da pergunta, além de afirmar que vai buscar medidas judiciais (leia o posicionamento ao final do texto). A nota, divulgada em sua rede social, teve centenas de mensagens de militares prestando apoio.
“Nos ofendem gratuitamente, e devem, ao mínimo, uma severa retratação. Isso, entretanto, não eximirá a busca do caminho judicial, para que não mais subjuguem não só a PM-GO, mas todos aqueles policiais militares, homens e mulheres, que pelo país afora, prestam serviços com seu próprio suor e sangue em benefício da preservação da ordem pública”, escreveu o comandante-geral.
A questão trouxe o seguinte conteúdo:
Josué, delegado de polícia em plantão noturno na delegacia de Anápolis, percebe a chegada de dois policiais militares conduzindo uma pessoa presa em flagrante por crime ambiental. Após inquirir oficialmente os milicianos, inicia o interrogatório da pessoa capturada, mas ela informa que se manter em silêncio. Os policiais militares se incomodam e iniciam constrangimento para que a pessoa responda às perguntas de Josué, quando este relembra os milicianos que o interrogatório forçado é crime de abuso de autoridade. Sobre esse tema, assinale a alternativa correta.
A Polícia Civil informou ainda que já foi formalmente encaminhado um pedido de explicação, esclarecimento e nota pública à empresa responsável pela realização do certame.
A reportagem não conseguiu contato com a Secretaria de Administração para se manifestar sobre a questão até a última atualização desta reportagem.
O que é milícia?
Miliciano é um termo usado para grupos armados irregulares, formados muitas vezes por integrantes e ex-integrantes de forças de segurança, como policiais, bombeiros e agentes penitenciários.
Os milicianos assumem por meio da força armada o controle territorial de áreas ou mesmo bairros inteiros e coagem moradores e comerciantes, segundo definições traçadas pelos pesquisadores Ignácio Cano e Thais Duarte no estudo “No Sapatinho: a evolução das milícias no Rio de Janeiro (2008-2011)”, publicado em 2012.
Nota do comandante-geral da PM – coronel André Henrique
Quero manifestar nosso inconteste repúdio, diante de um disparate tão inescrupuloso como o colocado na questão do concurso de Escrivão da PCGO, na data de hoje, no Estado de Goiás. Claro deve ficar, que a prova foi elaborada por empresa vencedora de processo licitatório.
Nefasto e funesto foi o texto apresentado; talvez, inclusive, com intenções muito além de levianas, de atingir uma Corporação que é patrimônio do povo goiano.
O próprio contexto da questão se faz pernicioso, já que numa colheita de declarações de autuado em flagrante de prática delituosa, nossos bravos policiais militares não se farão vigilantes de tal ato – essa é uma responsabilidade da autoridade de polícia judiciária nos crimes de natureza comum. Será o policial militar, sim, inquirido quando da realização do ato de sua oitiva, como a própria questão aberrativa colocou.
Ressalte-se que todo o arcabouço de normas regentes e construtivo da PMGO, em absolutamente ponto algum, usa o termo miliciano. Em nossos dizeres de caserna, mesmo que informais, também não fazemos uso de tal termo. Saibam disso.
Não tiveram os responsáveis pela elaboração de tal oração interrogativa, de forma nenhuma, o devido sentimento ético e moral, norteador das boas e salutares relações.
Nos ofendem gratuitamente, e devem, ao mínimo, uma severa retratação. Isso, entretanto, não eximirá a busca do caminho judicial, para que não mais subjuguem não só a PMGO, mas todos aqueles policiais militares, homens e mulheres, que pelo país afora, prestam serviços com seu próprio suor e sangue em benefício da preservação da ordem pública.
Ademais, questão é esta que deve ser anulada, até porque não se trata de pessoa “capturada”, afora tudo que foi acima claramente exposto. Simples assim.
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