Justiça recebeu a denúncia feita pelo Ministério Público do Rio de Janeiro. Vítima contou que estava a trabalho missionário e foi abusado sexualmente na casa do pároco.
O padre Ricardo Campos Parreiras, de 45 anos, foi preso suspeito de estupro contra um jovem em Nova Crixas , no norte goiano. Ele tinha um mandado de prisão em aberto, que foi cumprido na quarta-feira (14), em Goiânia. A juíza Marianna de Queiroz Gomes recebeu a denúncia feita pelo Ministério Público do Rio Janeiro, onde a vítima mora e ingressou com o processo.
O delegado regional de Porangatu, André Barbosa, que responde também por Nova Crixás, disse que a investigação foi concluída e enviada ao Judiciário goiano. O processo corre em segredo de Justiça. Por isso, não localizamos a defesa do pároco para se manifestar sobre a prisão e a denúncia.
A assessoria de imprensa da Polícia Civil confirmou a prisão do padre. A Diretoria-Geral de Administração Penitenciária (DGAP) informou que ele está detido no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia.
A magistrada que conduz o processo emitiu o mandado de prisão temporária em 8 de julho, conforme consta no Banco Nacional de Monitoramento de Prisões (BNMP) do Conselho Nacional de Justiça.
“Nota-se a presença dos pressupostos da materialidade do crime e fortíssimos indícios da autoria com relação ao acautelado, considerando as provas acostadas, inclusive depoimento da vítima e do psicólogo que a atendeu”, escreveu a juíza na sentença.
A Arquidiocese de Goiânia informou que o padre pertence à Diocese de Miracema do Tocantins e estava na capital acompanhando a saúde da mãe. A reportagem questionou se o pároco estava cedido para alguma paróquia de Nova Crixás quando o crime teria acontecido e aguarda retorno.
Entramos em contato com o bispo Philip Eduard Roger Dickmans, responsável pela diocese de Miracema, mas ele preferiu não se pronunciar sobre o caso.
Viagem com avô
O estudante de 23 anos que fez a denúncia ao Ministério Público do Rio de Janeiro contou que o estupro aconteceu em fevereiro de 2017. O processo, então, foi encaminhado para a Comarca de Nova Crixás.
À época, com 18 anos, ele viajou com o avô para ajudar em um trabalho missionário em Nova Crixás. Devido à idade avançada do parente, o jovem dirigia o carro dele para que visitassem várias cidades da região norte de Goiás.
Quando chegaram a Nova Crixás, ele conheceu o padre Ricardo Campos e ficou hospedado na casa do pároco por cerca de cinco dias.
O jovem relata que sentou em uma ponta do sofá e o padre na outra. Assim, ficaram fisicamente afastados. Durante a conversa, de acordo com o rapaz, o pároco inseriu temas sexuais.
“Eu estava incomodado com o assunto. Ele percebeu e me ofereceu um suco de uva. Fiquei na dúvida porque sou bem pé a trás com tudo, mas aceitei. Enfim, era um padre, não desconfiei no momento. Ele colocou alguma droga no suco”, ponderou o jovem.
Estupro
De acordo com o jovem, quando a suposta droga começou a fazer efeito, o padre iniciou a aproximação física. O rapaz relata que ele pegou três vezes em seu órgão genital e depois o mandou ir para o quarto, com a ressalva de deixar a porta trancada.
“Só lembro de acordar no outro dia com o short folgado e todo molhado. Até tranquei a porta, mas acho que ele tinha uma cópia da chave. Nos dias seguintes senti muita dor. Tenho certeza que fui drogado e estuprado por ele”, lamentou.
No ano passado, o rapaz conta que fez um tratamento com um psicólogo superar o trauma.
Reencontro
Como o padre é conhecido do avô do jovem, os dois se reencontraram no Rio de Janeiro, em 2019. O rapaz contou que a família não sabia do ocorrido em Nova Crixás.
“Fui até a casa do meu avô, sem saber que ele estava lá, e o reencontrei depois de dois anos do estupro. Ele veio até me pedir desculpa por ter tocado no meu órgão genital. Como ele é uma figura influente, fiquei com medo de ele fazer algo contra a minha família, mas tomei coragem e o denunciei”, completa o jovem.