Universidade desconfiou dos históricos escolares apresentados e denunciou à polícia. Investigação apura se fraudes custavam até R$ 80 mil; detenções aconteceram em GO.
A Justiça manteve a prisão dos 19 estudantes de medicina suspeitos de entrarem no curso com documentos falsos durante audiência de custódia na tarde desta quinta-feira (28), conforme informou o delegado Danilo Fabiano, responsável pelas investigações. Eles são investigados por usarem históricos falsos no processo de transferência externa para a Universidade de Rio Verde , no sudoeste de Goiás.
Os nomes dos suspeitos não foram divulgados. Por isso, não localizamos as defesas deles para se manifestarem até a última atualização desta reportagem.
Foram presos na última quarta-feira (27) 17 estudantes em Goianésia , um em Formosa e um em Barreiras,. A investigação apura ainda se as fraudes custavam até R$ 80 mil. Alguns deles entraram já nos períodos finais da graduação e faziam atendimento à população. Um vídeo mostra quando os estudantes são escoltados pela polícia até uma van e levados à delegacia.
“Vários dos investigados contribuíram com informações para a investigação. Muitas confessaram a fraude. Temos estudantes que faziam medicina no Paraguai e Bolívia. Alguns nunca tinham feito faculdade de medicina e já estavam em períodos adiantados do curso. Outros, já eram formados em áreas da saúde como fisioterapia e enfermagem”, disse o delegado Danilo Fabiano.
Um print de um grupo de mensagens mostra uma pessoa ainda não identificada dizendo que estava pagando R$ 60 mil pela falsificação de documentos para entrar de maneira irregular no curso.
“Tô na mesma, com uma possibilidade de ir para Goiás, foi o melhor negócio que achei, só tô tentando a verba […] 60 mil de transferência e não preciso correr atrás de documentos, eles [organização criminosa] fazem tudo”, diz o print.
Os alunos que foram presos estavam matriculados na Universidade de Rio Verde (UniRV). A instituição de ensino disse que identificou fortes evidências de fraude documental praticada por alguns dos candidatos no processo de transferência. A instituição explicou que as faculdades que seriam de origem dos alunos confirmaram as fraudes.
O comunicado diz ainda que a universidade comunicou as fraudes à Polícia Civil, que assumiu o caso e orientou na continuidade da transferência para não atrapalhar a investigação. Após a operação policial, a instituição comunicou que vai expulsar os estudantes investigados.
Apesar de a instituição ter sede em Rio Verde, os alunos estudavam em campus de Goianésia e Formosa, segundo a polícia.
Foram apreendidos também aproximadamente 80 históricos escolares falsificados durante a operação. O delegado informou que a investigação continua para identificar se outros alunos também usaram documentos falsos para ingressar em universidades de Goiás.
Fraudes
O delegado Danilo Fabiano disse que os alunos entravam a partir do quinto ou sexto período, sendo a metade do curso, sem ter estudado em qualquer faculdade no Brasil.
Foram falsificados documentos de oito universidades de medicina no país, as quais confirmaram as irregularidades à polícia durante a investigação.
“Grande parte era de alunos da UniRV, que denunciou as fraudes à Polícia Civil. O mandado cumprido na Bahia se refere a uma pessoa que já estava em outra faculdade, mas ela tinha apresentado documento falso em Goiás”, explicou o delegado.
Bolsa de estudo
Parte dos alunos investigados conseguiram bolsas de estudos pagas pelos cofres públicos. O delegado apurou que eles agiram em conjunto para fraudar os documentos.
A Polícia Civil informou que os estudantes podem responder por falsidade ideológica, uso de documento falso, associação criminosa e perigo à vida de outras pessoas.
“Como parte dos alunos era marido e mulher, a universidade dá uma bolsa de estudos de 25%. Com isso, como a universidade é uma fundação pública, causa dano ao erário, vez que parte do recurso é público”, explicou o delegado.